Troupe,
Concluímos mais um projeto!
“Serafim – Histórias de Todo o
Tempo & Nenhum” foi um processo bem tumultuado.
Tivemos, nesses oito meses de
trabalho, diversas questões que exigiram posicionamentos de todos nós. Desde o
início, já na primeira leitura do texto, em março, no Salão Ivaí, quando
reensaiávamos a peça “Uma Noite com
Agatha Christie” para as apresentações no Festival de Curitiba, já se
apresentavam questionamentos de alguns componentes do grupo acerca da proposta
do texto, cuja temática e linguagem proposta era o drama poético. A maioria, é
verdade, posicionou-se a favor do texto proposto, mesmo após meu comentário
de que tal proposta seria um grande desafio e exigiria muita dedicação e
concentração de todos. Tivemos aí uma parada nos trabalhos para prepararmos as
apresentações no Festival. Esta parada, a meu ver, causou um desestímulo ao
grupo e, quando da retomada dos ensaios, após o Festival, alguns dos
integrantes do grupo já não tinham o mesmo impulso anterior. Iniciamos nossos
ensaios e muitos questionamentos retornaram e foram propostos cortes em cenas
que ainda nem tinham passado do processo de primeiras leituras, sem nunca terem
sido experimentadas em ensaios práticos, no palco. Os motivos de tais cortes
foram apresentados tendo como justificativas e argumentos como “não gosto”, “acho
a cena chata”, etc... etc... Tais cortes foram feitos. O texto inicial proposto
teve, no total, seis versões. Algumas delas em função da entrada de dois novos
atores no elenco (Leo e Eric), o que foi muito positivo para a dinâmica da
peça. Durante os ensaios, alguns dos atores tiveram problemas particulares e
não puderam estar presentes em grande número de dias, outros tiveram frequentes
atrasos nos ensaios e isso também trouxe problemas para o bom andamento do
processo. Por outro lado, aqueles(as) atores que mantiveram alta frequência nos
ensaios demonstraram entusiasmo e comprometimento com o processo criativo e
realizaram grandes performances na nossa temporada. Devo acrescentar que considero
o resultado obtido no projeto “Serafim”, apesar do processo tumultuado, como um
de nossos melhores e mais elaborados trabalhos, graças ao nosso esforço comum
na sua consecução.
Votando aos meus comentários
críticos acerca do nosso processo de ensaios quero dizer da minha satisfação quanto
à dedicação de todos do elenco quanto à criação de suas personagens. Assistindo
a última apresentação, no dia 21 de outubro, na plateia, pude constatar a
solidez do espetáculo, a profundidade conquistada pelos atores nos subtextos de
cada fala, o empenho na busca da manutenção do ritmo de cada cena, o brilho nos
olhos de cada um. Isto foi, para mim, emocionante. Parabéns.
Foram muitos os entraves, alguns
bastante sérios. A saída de duas atrizes (Haro e Déia) a uma semana da estreia foi
um deles. Estávamos passando por momentos muito delicados e, evidentemente, tal
posicionamento das duas atrizes causou um forte abalo no processo. Como já
expus ao grupo, não tenho qualquer mágoa ou rancor contra a posição adotada pelas
citadas atrizes, pelas quais mantenho forte admiração e amizade sincera. Admiro
até seu posicionamento, sua coragem e não as censuro, senão por terem sido
tomadas tais decisões tão pouco tempo antes da estreia.
Outras questões, tais como a
insistência de alguns integrantes do grupo na mudança da música final composta
por Celso Loch, também trouxeram discussões acaloradas nos ensaios, apesar de,
democraticamente, a maioria do grupo ter se manifestado contrária à mudança
proposta.
Houve também resistências à
metodologia que adotei na condução da direção do espetáculo. Reafirmo minha
postura sempre aberta a críticas, meu compromisso com manter o espaço de
discussão ao fim de cada ensaio para que cada um(a) possa manifestar-se livremente
e apresentar sugestões de cenas e correções de enfoques na narrativa ou na
construção de personagens. Mas, reitero que sou o autor e diretor e que é minha
a responsabilidade na condução do processo. Repito o que já disse inúmeras
vezes nos ensaios: é preciso entrega, ousadia, proposição e dedicação de cada
um(a) dos atores. O melhor caminho na construção de uma personagem não é o
atalho, mas, sim, o caminho mais longo, aquele que exige mais do intérprete,
aquele que o(a) tire da “zona de conforto”, aquele caminho que o(a) desafie
mais. Assim, respeitando aqueles que buscam esse caminho mais longo, acho que conquistamos
um resultado mais significativo para a experiência do fazer teatral. Ao
contrário disso, usando o atalho, mantendo-nos no conforto de nossos limites
podemos até realizar um trabalho correto e de aparente “bom padrão”, porém,
dificilmente este trabalho nos trará a satisfação artística, o prazer da
experimentação do exercício de realmente interpretar.
Quanto à equipe técnica quero
agradecer ao Beto Bruel por sua sempre grande colaboração em nossos projetos;
ao Celso Loch por seu talento, sua competência, seu profissionalismo e amizade;
ao Carioca por tudo e especialmente agradecer a Anna Schoemberger, minha
afilhada por adoção, que inundou nosso trabalho com seu talento e seu incrível
alto astral. Agradeço também, é claro, a Eliane Berger, minha irmã, por tudo,
como sempre e sempre. Também quero renovar as boas-vindas e agradecer ao
Alexandre Zeigelboim
pelo carinho e dedicação com que se apresentou ao grupo. Muito obrigado a
todos. Agradeço também a minha querida Ana Mary Fortes, que, como sempre, esteve ao meu lado dia e noite, lá no Salão Ivaí e no palco, carregando o piano. Tomamos muito café, manchamos muito as mãos na tinta e rimos muito, outra vez!
Acho que foram diversas lições
para todos nós, que há tanto tempo estamos juntos nesse projeto de manutenção
de um grupo artístico aqui no Clube Curitibano. Eu aprendi muito e espero que
vocês também tenham podido aprender com tudo o que aconteceu. Tenho certeza que
crescemos muito.
Em breve faremos uma reunião com
todos lá no Salão Ivaí para planejarmos as atividades futuras.
Enéas Lour