segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Concluímos mais um projeto!



Troupe,
Concluímos mais um projeto!
“Serafim – Histórias de Todo o Tempo & Nenhum” foi um processo bem tumultuado.
Tivemos, nesses oito meses de trabalho, diversas questões que exigiram posicionamentos de todos nós. Desde o início, já na primeira leitura do texto, em março, no Salão Ivaí, quando reensaiávamos a peça “Uma Noite com Agatha Christie” para as apresentações no Festival de Curitiba, já se apresentavam questionamentos de alguns componentes do grupo acerca da proposta do texto, cuja temática e linguagem proposta era o drama poético. A maioria, é verdade, posicionou-se a favor do texto proposto, mesmo após meu comentário de que tal proposta seria um grande desafio e exigiria muita dedicação e concentração de todos. Tivemos aí uma parada nos trabalhos para prepararmos as apresentações no Festival. Esta parada, a meu ver, causou um desestímulo ao grupo e, quando da retomada dos ensaios, após o Festival, alguns dos integrantes do grupo já não tinham o mesmo impulso anterior. Iniciamos nossos ensaios e muitos questionamentos retornaram e foram propostos cortes em cenas que ainda nem tinham passado do processo de primeiras leituras, sem nunca terem sido experimentadas em ensaios práticos, no palco. Os motivos de tais cortes foram apresentados tendo como justificativas e argumentos como “não gosto”, “acho a cena chata”, etc... etc... Tais cortes foram feitos. O texto inicial proposto teve, no total, seis versões. Algumas delas em função da entrada de dois novos atores no elenco (Leo e Eric), o que foi muito positivo para a dinâmica da peça. Durante os ensaios, alguns dos atores tiveram problemas particulares e não puderam estar presentes em grande número de dias, outros tiveram frequentes atrasos nos ensaios e isso também trouxe problemas para o bom andamento do processo. Por outro lado, aqueles(as) atores que mantiveram alta frequência nos ensaios demonstraram entusiasmo e comprometimento com o processo criativo e realizaram grandes performances na nossa temporada. Devo acrescentar que considero o resultado obtido no projeto “Serafim”, apesar do processo tumultuado, como um de nossos melhores e mais elaborados trabalhos, graças ao nosso esforço comum na sua consecução.
Votando aos meus comentários críticos acerca do nosso processo de ensaios quero dizer da minha satisfação quanto à dedicação de todos do elenco quanto à criação de suas personagens. Assistindo a última apresentação, no dia 21 de outubro, na plateia, pude constatar a solidez do espetáculo, a profundidade conquistada pelos atores nos subtextos de cada fala, o empenho na busca da manutenção do ritmo de cada cena, o brilho nos olhos de cada um. Isto foi, para mim, emocionante. Parabéns.
Foram muitos os entraves, alguns bastante sérios. A saída de duas atrizes (Haro e Déia) a uma semana da estreia foi um deles. Estávamos passando por momentos muito delicados e, evidentemente, tal posicionamento das duas atrizes causou um forte abalo no processo. Como já expus ao grupo, não tenho qualquer mágoa ou rancor contra a posição adotada pelas citadas atrizes, pelas quais mantenho forte admiração e amizade sincera. Admiro até seu posicionamento, sua coragem e não as censuro, senão por terem sido tomadas tais decisões tão pouco tempo antes da estreia.
Outras questões, tais como a insistência de alguns integrantes do grupo na mudança da música final composta por Celso Loch, também trouxeram discussões acaloradas nos ensaios, apesar de, democraticamente, a maioria do grupo ter se manifestado contrária à mudança proposta.
Houve também resistências à metodologia que adotei na condução da direção do espetáculo. Reafirmo minha postura sempre aberta a críticas, meu compromisso com manter o espaço de discussão ao fim de cada ensaio para que cada um(a) possa manifestar-se livremente e apresentar sugestões de cenas e correções de enfoques na narrativa ou na construção de personagens. Mas, reitero que sou o autor e diretor e que é minha a responsabilidade na condução do processo. Repito o que já disse inúmeras vezes nos ensaios: é preciso entrega, ousadia, proposição e dedicação de cada um(a) dos atores. O melhor caminho na construção de uma personagem não é o atalho, mas, sim, o caminho mais longo, aquele que exige mais do intérprete, aquele que o(a) tire da “zona de conforto”, aquele caminho que o(a) desafie mais. Assim, respeitando aqueles que buscam esse caminho mais longo, acho que conquistamos um resultado mais significativo para a experiência do fazer teatral. Ao contrário disso, usando o atalho, mantendo-nos no conforto de nossos limites podemos até realizar um trabalho correto e de aparente “bom padrão”, porém, dificilmente este trabalho nos trará a satisfação artística, o prazer da experimentação do exercício de realmente interpretar.
Quanto à equipe técnica quero agradecer ao Beto Bruel por sua sempre grande colaboração em nossos projetos; ao Celso Loch por seu talento, sua competência, seu profissionalismo e amizade; ao Carioca por tudo e especialmente agradecer a Anna Schoemberger, minha afilhada por adoção, que inundou nosso trabalho com seu talento e seu incrível alto astral. Agradeço também, é claro, a Eliane Berger, minha irmã, por tudo, como sempre e sempre. Também quero renovar as boas-vindas e agradecer ao Alexandre Zeigelboim pelo carinho e dedicação com que se apresentou ao grupo. Muito obrigado a todos. Agradeço também a minha querida Ana Mary Fortes, que, como sempre, esteve ao meu lado dia e noite, lá no Salão Ivaí e no palco, carregando o piano. Tomamos muito café, manchamos muito as mãos na tinta e rimos muito, outra vez!
Acho que foram diversas lições para todos nós, que há tanto tempo estamos juntos nesse projeto de manutenção de um grupo artístico aqui no Clube Curitibano. Eu aprendi muito e espero que vocês também tenham podido aprender com tudo o que aconteceu. Tenho certeza que crescemos muito.
Em breve faremos uma reunião com todos lá no Salão Ivaí para planejarmos as atividades futuras.
Enéas Lour

sexta-feira, 22 de junho de 2012

BOLERO PARAGUAYO PARA DOLORES JOANA




O Celso Loch, nosso Diretor Musical,
 é meu parceiro de há muitos e muitos anos 
e escreveu a letra acima para a cena da Dolores. 
Simplesmente genial!
Grande Celso!
Parabéns!



sexta-feira, 15 de junho de 2012

PARA PENSAR SOBRE O SERAFIM



Aniversário

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


15/10/1929


Os versos acima, declamados pelo ator PAULO AUTRAN, forma escritos pelo poeta Fernando Pessoa com o heterônimo de Álvaro de Campos, foram extraídos do livro " - Fernando Pessoa - Obra Poética", Cia. José Aguilar Editora - RJ 1972, pág. 379.
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NOTAS DO AUTOR E DIRETOR  SOBRE A PEÇA


Estamos trabalhando um texto, uma peça, que tem como protagonista um homem velho. Um poeta que chegou um dia, depois de muito caminhar pelo tempo de sua vida, numa praia no fim de seu caminho. Com ele vieram suas pegadas desde os tempos de menino, atrás dele, marcadas uma a uma. E cada pegada dessas, deixadas na areia do tempo, é uma cicatriz. Ali, em cada marca, em cada quadradinho de espelho (Spécula) da chuva de suas lembranças, estão várias das personagens que compuseram a música de sua vida. Ali estão o batom da primeira prostituta - Joana e/ou Dolores, seu nome de guerra, que ensinou minúcias tristes do amor ao menino. Ali estão os cobradores, com suas regras deste nosso mundo real tão inóspito às almas mais delicadas, mais sensíveis. Ali está a cidade, há um tempo mãe e também madrasta que ensina a visão do outro. Ali estão reunidas figuras que ensinaram ao velho Serafim os muitos caminhos do mundo, suas escolhas e preço de cada uma de suas opções. São retratos dele recortados de sua memória. Seus pecados, suas glórias. Seus passos passados por milhas e trilhas, por sertões e capitais, águias e urubus, mandingas e mandacarus, em busca da sua palavra perdida. O encontro consigo mesmo em oposto (Mifares), juiz mais crítico, advogado do diabo, que lhe impõem - como todos nós nos impomos - consciência de si mesmo. Sair de uma "ilha" em busca do outro, impelido pelo amor, que coisa mais difícil! Tarefa dura. Mifares o faz sair da casca. Ele mesmo se provoca ao atirar-se ao mar e ir ao encontro do outro, pois "aprender sobre si consigo mesmo é impossível! você só aprende com os outros, Serafim!". E, por fim, vem a Lua, (Selene) a madrinha de nossos sonhos beijar-lhe a testa sombria em rugas. Dar-lhe o beijo do descanso final e irrecorrível, tão merecido por todos nós, a morte. Diz-lhe, a madrinha, tendo o velho Serafim ao seu colo: Vem! ...Vem meu filho! Vem até aqui, criança! E descansa em meu colo tua cabeça. Mas, traz contigo os teus sonhos, menino, não esqueça! Traz teus sonhos que contigo viajaram sempre, não os deixe nunca, não os perca! Eles, os teus sonhos, são de tua alma o alimento! Não os perca nunca, em nenhum momento! E é isso o que faz o velho quando lhe "entrega sua palavra - a poesia - e segue seu novo caminho” daqui para outro planeta".

Enéas Lour
Curitiba, 15 de junho de 2012.





quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CALENDÁRIO 2012



EM 2012 O GRUPO DE TEATRO DO CLUBE CURITIBANO 
TERÁ S 92 DIAS JUNTOS
ENTRE ENSAIOS E TEMPORADAS.

(ISTO SÓ ATÉ SETEMBRO)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

sobre a peça

SOBRE A PEÇA:

A ideia da personagem central da peça teatral “Serafim – Histórias de Todo Tempo & Nenhum” foi tomando corpo a partir de pequenos detalhes que compõem o cotidiano de algumas pessoas com as quais eu convivo, personagens que me interessam por sua dramaticidade contida, que falam em tom menor e passam desapercebidas na fila do supermercado. Ou seja, fugi das personagens mais carismáticas, histriônicas e extravagantes, - como, no cinema, são as de Almodóvar ou de Fellini - e me detive em uma personagem comum como a grande maioria das pessoas no mundo real. 
Uma personagem na qual existisse o desejo de que o mundo fosse um lugar onde quase nada acontecesse, mas que, para sua surpresa, muita coisa acontece. 
Serafim é assim: um sujeito que tenta evitar o verbo e os adjetivos superlativos, mas, não consegue, pois, como dizia Guimarães Rosa, “a vida é um redemoinho” e “viver é muito perigoso”.

O mundo de Serafim é “recheado com o tempo poético da magia” como se a vida fosse “uma eterna infância” como disseram em coro Jorge Luis Borges, Cortázar, Cervantes, Quintana, Leminski e alguns outros “meninos loucos” que me ajudaram a construir a estrutura dessa personagem e de seus acompanhantes nessa odisseia em busca de sua palavra, seu amor e suas verdades.

Nessa viagem repleta de peripécias e aventuras extraordinárias e inesperadas Serafim encontra antagonistas efervescentes que costuram com ele um panorama tecido com fatos ultrapoéticos da nossa mais prosaica realidade. 
Uma experiência dramatúrgica no tratamento de narrativas surrealistas que permitem um jogo lúdico e não linear com o Tempo e os conteúdos focados em cada cena.

Um grande desafio para mim como autor e diretor e para os integrantes do Grupo de Teatro do Clube Curitibano, pois, pela primeira vez em nosso processo de aprendizagem, os atores e atrizes reprersentarão não somente uma, mas, várias personagens diferentes numa mesma peça, com contracena e subtextos, obviamente, diversos para cada uma delas. Um ótimo desafio, não acham? ...


Enéas Lour
Autor e Diretor
Janeiro / 2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

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